terça-feira, 30 de junho de 2015

O choro é livre

Vi muitas pessoas atacando e defendendo o jornalista Zeca Camargo por causa de sua crônica sobre a comoção gerada pela morte do cantor Cristiano Araújo.

Fiquei curioso e resolvi ver o comentário. Aproveitei para ver sua explicação após a revolta de alguns fãs e cantores sertanejos.

Apesar de estar em dívida com o blog e ainda não ter postado a segunda parte da entrevista com os jornalistas Paulo Manso e Alexandre de Paulo (mesmo velha, permanece atual), gostaria de dar minha opinião sobre a crônica do Zeca. Não como um profissional da área de comunicação, mas como um filho que perdeu o pai há 15 dias.

Recebi mensagens, ligações e abraços de amigos e parentes que não via há anos. Todos quiseram amenizar a dor da perda. E conseguiram.

Alguns amigos não chegaram nem a conhecer o meu pai. Por isso não deveriam lamentar o óbito? Não deveriam ficar tristes? Não deveriam expressar suas condolências?

Experiente e calejado em coberturas de mortes de famosos, como ele mesmo definiu, Zeca Camargo deveria estar mais do que acostumado a estas manifestações. A morte sempre imortaliza. Na antiga versão do blog, havia escrito exatamente isso sobre o piloto Ayrton Senna.

Antes do acidente fatal de Cristiano Araújo, eu conhecia o seu trabalho por uma música (que, por sinal, gosto muito): "Maus bocados".

Depois que ele morreu, soube que era o intérprete de outras canções que eu conhecia, descobri mais algumas e passei a gostar de "Caso indefinido".

Mas, independente de tudo isso, qualquer morte é de se lamentar. Ainda mais da forma violenta que foi.

Cristiano Araújo tinha apenas 29 anos e estava no auge. E pouco importa se o auge é ter 100 mil fãs ou 1 milhão de pessoas em um show.

Quando estava no meu antigo emprego, há mais de um ano, o meu ex-chefe perguntou para outra repórter se valia a pena fazer uma promoção com o cantor. Na época não o conhecíamos. Então resolvemos entrar na fan page dele no Facebook.

À época, o sertanejo já possuía milhares de curtidas. Concluímos que a ação era válida. Hoje, impulsionado pela morte ou não (não interessa), já são 7,6 milhões de joinhas. Vi alguns vídeos de apresentações de Cristiano. Todos os seus shows (realizados em locais grandes) estavam lotados.

Só estes pequenos "causos" mostram que a grande comoção não é surpreendente. Ou pelo menos não era para ser. Por mais que muita gente não o conhecesse, o cantor tinha, sim, uma legião de seguidores.

E se esta legião aumentou depois de sua morte? Qual é o problema? Você não pode conhecer algo novo e gostar? Porque é óbvio que o trabalho e a imagem do sertanejo seriam expostos a exaustão após o ocorrido. Sempre foi assim e sempre será. Zeca Camargo é jornalista e não sabia disso?

Aliás, quando o próprio Zeca morrer, vai acontecer a mesma coisa: várias pessoas vão lamentar o fato como se fossem íntimas dele. Mesmo que ele fique décadas afastado da TV. Afinal, após anos de Globo, obviamente é uma figura pública.

Então, Zeca, deixe as pessoas chorarem. O choro é livre.

Que mal há em as pessoas expressarem seu pesar? Seja por um momento ou por uma vida inteira?


sexta-feira, 20 de março de 2015

Sempre há espaço para a paixão e o talento

Não chegamos nem ao quarto mês do ano e já descumpri uma das metas de 2015: manter o blog atualizado semanalmente. Levei um susto quando vi a data do último post: 5 de fevereiro! Um absurdo!

Com um pouco de vergonha, retorno para postar a segunda parte da entrevista com a jornalista Adriana Farias. Ela encerra a conversa mostrando a realidade da profissão e expondo as matérias mais marcantes de sua carreira (os links estão disponíveis para o leitor acessar - basta clicar nas palavras em azul na segunda resposta dela).

"...acredito que para quem tem uma real paixão pela profissão terá seu espaço [...] Também não dá para entrar deslumbrado seja em TV, jornal, revista ou portal. Tem muita ralação mesmo".

Acrescentaria a esta fala da Adriana a seguinte observação: TUDO na vida deve ser feito com paixão e entrega. Caso consiga conciliar com o talento, melhor ainda.


Voltaremos (espero que em breve) para mostrar a segunda parte da entrevista com os jornalistas Paulo Manso e Alexandre de Paulo sobre o Haiti. Para quem viu e curtiu a primeira metade, não perde por esperar a segunda. Está emocionante.



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Planeja lançar outro livro? Se sim, qual seria o tema?

Sim, almejo a produção de outros dois livros. Um esta mais ao meu alcance e o trabalho seria todo feito no Brasil, já o outro demandaria viagens para fora.
No momento prefiro não divulgar os temas.

Depois do livro, quando voltou ao Brasil e entrou no mercado de vez, qual foi a história escrita por você que mais chamou atenção? (Sem ser a da Loemy) Por que?

Sem dúvida a história mais impactante e de maior repercussão em que trabalhei foi a da Loemy, jovem do Mato Grosso que veio tentar a carreira de modelo em São Paulo, mas as frustrações e dificuldades da cidade grande se aliaram a um profundo trauma que sofreu na infância. Ela estava há dois anos morando na Cracolândia e viciada em crack. Foi uma batalha tremenda, desde a descoberta do caso até a finalização da apuração.

Outras reportagens importantes foram na área de fluxo migratório. Denunciamos a burocracia que estava deixando estrangeiros em busca de refúgio no limbo jurídico , sem acesso a saúde e educação, relatei as histórias de dois potenciais refugiados que ficaram semanas detidos no Aeroporto de Guarulhos em uma sala chamada "conector", sem condições dignas de vida e também o caso dos estrangeiros condenados que cumprem pena em liberdade, mas vivem clandestinos no país, sem direito a qualquer documentação que regularize sua situação migratória devido a lei do estrangeiro, criada na época da ditadura e que vê a pessoa que vem de fora como inimiga.



O que diria para os alunos de jornalismo sobre a carreira? E o que você almeja como jornalista?


O mercado de trabalho não esta nada promissor, mas acredito que para quem tem uma real paixão pela profissão terá seu espaço. Mas é fato que é uma área que demanda muito trabalho, cabeça firme, dedicação, paciência, muito pensamento positivo e ambiciosos, no bom sentido. Também não dá para entrar deslumbrado com a profissão, seja em TV, jornal, revista ou portal. Tem muita ralação mesmo.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

"Jornalismo está carente de boas histórias"

Quando resolvi resgatar o blog, não tinha a intenção de angariar muitos leitores. Sei que é complicado até para os meus amigos acompanharem as postagens (por mais que não sejam muitas).

Eu decidi voltar com o Bacelardas pelo simples prazer de contar histórias. Desde o retorno, já exibi uma longa entrevista com o narrador Everaldo Marques, que acabou de transmitir mais um SuperBowl pelos canais ESPN.

Também mostrei parte de uma conversa agradável (e bastante construtiva) com os jornalistas Alexandre de Paulo e Paulo Manso sobre as dificuldades enfrentadas pelo povo haitiano. A outra metade postarei em breve --é um pouco trabalhoso carregar o vídeo no YouTube e o tempo é escasso.

E agora tenho o prazer de publicar o primeiro trecho de uma entrevista com a jornalista Adriana Farias.

Com 26 anos (a minha idade também), Adriana resume em algumas linhas o que eu também penso sobre o jornalismo.

"Acho que o jornalismo está carente de boas histórias no geral, aquelas que não se encontram por meio de releases, mas sim gastando muita sola de sapato. Tendo sensibilidade para escutar as pessoas, sabendo como uma pontinha do iceberg pode esconder no fundo do mar uma grande história".

Com este olhar inquieto, ela já escreveu um livro, London Calling - histórias de brasileiros em Londres, e produziu talvez uma das melhores matérias de 2014: sobre a jovem Loemy, que saiu de Mato Grosso para tentar a carreira de modelo em São Paulo, mas parou na Cracolândia.

A história foi contada na revista Veja São Paulo e repercutida em vários veículos de comunicação. Por questões jornalísticas, não falamos muito sobre o caso Loemy.

Porém, por outro lado, abordamos muito a produção do livro e a viagem a Londres que originou o trabalho.

Inclusive, Adriana diz como chegou a Alex, primo de Jean Charles, o brasileiro morto por engano pela polícia britânica em 2005.


Por que decidiu fazer o intercâmbio?

Fiz o intercâmbio em novembro de 2010 e retornei em março de 2011. Decidir fazer o intercâmbio para aprimorar o meu inglês já que na época eu trabalhava com jornalismo cultural na PlayTV e sempre rolava entrevistas com bandas gringas. Além disso, sempre morri de vontade de passar por essa experiência transformadora de conhecer pessoas e culturas diferentes. Nada como fazer isso em Londres, o berço da música, onde efervesceu o punk, local que congrega dezenas de nacionalidades.

Como o intercâmbio auxiliou na sua carreira jornalística (fora o aprendizado do inglês)?


A experiência foi tão transformadora que eu acabei lançando um livro-reportagem (London Calling - histórias de brasileiros em Londres) em agosto de 2012. Não são simplesmente relatos de pessoas que se mudaram para lá para fazer um pé de meia ou coisa do tipo, mas histórias de busca por transformações pessoais. Uma delas é de uma executiva de quase 40 anos que largou um alto salário em uma empresa onde trabalhou por dez anos para se permitir uma mudança, uma aventura, algo que as pessoas viviam jogando na cara dela que só valia para quem era novinho, nos 20 e poucos anos.

Quando e por que decidiu escrever o livro? Quais portas o livro te abriu?

Como eu fui para Londres com olhar de jornalista eu já estava registrando tudo, guardando os contatos, relatos, mas voltei sem nenhuma pretensão de fazer um livro. Retornei ao Brasil com uma oportunidade de trabalho na RedeTV! e nem imaginava fazer nada do tipo e, sim, me dedicar ao trabalho.

Porém, quando fui iniciar o meu TCC (trabalho de conclusão de curso) na PUC-SP me veio a ideia de unir a experiencia viva, intensa, profunda de Londres em um livro-reportagem. Consultei meu professor, retomei todos os contatos, refiz entrevistas, compilei dados e acabou dando muito certo.

Tirei nota 10. Esse TCC foi apresentado em 2011 e o repaginei para transformá-lo em um livro comerciável. Ele foi lançado em agosto de 2012 pela editora Giostri, que acreditou no projeto.

O livro lançado foi um grande portfólio já que eu havia me formado há pouco tempo. Quando sai da RedeTV! em meados de 2012 e participei de um processo seletivo na TV Cultura e, no mês seguinte, na Folha de S.Paulo, com a proximidade do lançamento, tenho certeza que foi um ponto super positivo no momento que os dois veículos decidiram me chamar para as vagas.

O que mais te chamou atenção em Londres? E na produção do livro? Há alguma curiosidade sobre a obra (na apuração ou até mesmo na escrita)?

Acho que o mais interessante mesmo foi sair pelas ruas e escutar italianos, espanhóis, chilenos, coreanos, japoneses, iranianos ou sudaneses falando inglês e/ou seus próprios idiomas. Era uma diversidade cultural incrível que me contagiava. Eu estava na capital do mundo. Sem contar a parte cultural da cidade, como eu disse anteriormente. A região de Camden Town é uma Galeria do Rock a céu aberto. O número de pubs e bandas independentes tocando em cada esquina era uma delícia também.


O que mais me chamou atenção durante a produção do livro, além das oportunidades de mudanças que as pessoas estavam se permitindo, foi a oportunidade de viajar para o interior de Minas Gerais para recontar a história de Jean Charles, o brasileiro morto no metrô de Londres, por meio também da história de Alex Pereira, o primo dele.

Durante a produção do livro explodiu na mídia aquele escândalo de grampos telefônicos do News of The World, tabloide do empresário Rupert Murdoch. Uma das pessoas que haviam sido grampeadas foi justamente o Alex.

Tudo que eu encontrava sobre ele na mídia brasileira era superficial, mas o suficiente para saber que ele tinha muita história para contar e ninguém soube explorar isso. Na época, a mídia estava na loucura para ter o caso do Jean e se esqueceram do Alex, que foi um homem muito importante e peça fundamental nessa história toda. Ele lutou contra gigantes para provar a inocência do primo.

Acha que o jornalismo brasileiro está carente de histórias como as retratadas no livro?


Acho que o jornalismo está carente de boas histórias no geral, aquelas que não se encontram por meio de releases, mas sim gastando muita sola de sapato. Tendo sensibilidade para escutar as pessoas, sabendo como uma pontinha do iceberg pode esconder no fundo do mar uma grande história.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

"Crianças comem barro para sobreviver no Haiti"

Enquanto ainda estamos procurando respostas para os ataques na França, muitos outros países continuam sofrendo diariamente com a violência. Inclusive o próprio Brasil, onde mais de 50 mil pessoas são assassinadas por ano.

Considerada a nação mais pobre das Américas, o Haiti é assolado não só pela violência, mas também pela miséria e até mesmo pelos desastres naturais --há cinco anos, o país foi vítima de um terremoto que até hoje mostra suas marcas na população local.

Em meio a este cenário desolador, os jornalistas Alexandre de Paulo e Paulo Manso, da Folha Metropolitana/ Metrô News, viveram experiências inesquecíveis no Haiti e dividem um pouco de suas impressões em uma entrevista de aproximadamente 35 minutos --a primeira parte está disponível no vídeo abaixo (de antemão, peço desculpas pelo áudio que está baixo, mas com um fone de ouvido é possível ouvir perfeitamente).


"Crianças comem barro para sobreviver", diz Alexandre de Paulo.

"Não tem como voltar igual de lá. Sinto vergonha de reclamar por qualquer coisa agora", completa Paulo Manso.

Visivelmente marcados pela viagem e pelo contato com o povo haitiano, os jornalistas produziram um especial publicado em quatro cadernos --o último sai nesta quinta (15). Todos estão disponíveis nos sites do Metrô News e da Folha Metropolitana.

Além das matérias especiais, eles planejam lançar um documentário e um livro sobre a estadia de uma semana no Haiti.

Assistam à primeira metade da conversa com 17 minutos. Aproveito para agradecer ao fotógrafo Lucas Dantas, que gentilmente filmou a entrevista. O vídeo não possui qualquer tipo de edição. Assim como é a nossa vida. Assim como é o sofrimento diário dos haitianos.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Justiça não tarda, mas é falha






Não. Você não está louco e eu não cometi nenhum ato falho.

As redes sociais inverteram a ordem do ditado "a Justiça tarda, mas não falha". Agora ela está muito rápida. E, às vezes, equivocada.

Minutos após o ataque à redação do "Charlie Hebdo", em Paris, muitos 'juízes' saíram distribuindo sentenças: condenaram os terroristas, o islamismo, os chargistas, a esquerda, a direita...

Há uma necessidade medonha de falar sobre qualquer assunto que esteja em pauta. Por um lado isso é bom. Mostra que as pessoas estão cada vez mais sedentas por informação.

Porém, ao emitir uma opinião sobre uma tragédia, devemos ter certeza de nossas palavras para não ofendermos injustamente alguém.

Desde o fatídico dia 7 de janeiro, eu li diversos e divergentes textos sobre o atentado. Sabe qual é a minha conclusão? Nenhuma.

Quer dizer, até tenho minhas impressões, mas elas são insignificantes e rasas perto da enorme complexidade do tema.

"Ahhh, mas eu vi no jornal que..." Esquece. Por mais que os jornalistas tenham cuidado (e nem todos têm) na apuração, estamos (incluo-me na lista) sujeitos ao erro. Até porque, assim como os 'juízes virtuais' têm pressa em julgar, a imprensa também precisa ser ágil para passar as informações a um público faminto.

Os irmãos Kouachi (principais suspeitos pelo ataque ao jornal) morreram e não sabemos realmente quem eles eram. Só sabemos que 2015 começou assustadoramente triste.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Não aconselharia meu filho a ser narrador, diz Everaldo Marques

Voltamos à atividade após um longo período e com algumas novidades. Além de textos opinativos (com personagens reais e fictícios), agora o Bacelardas terá entrevistas (nem sempre inéditas). Começamos com uma exclusiva (e inédita) feita com o narrador Everaldo Marques, dos canais ESPN. Nas próximas linhas, o leitor do blog vai descobrir um "Evê" até então desconhecido dos fãs de esportes.

Você sabia que ele começou narrando jogos da quarta divisão do Campeonato Paulista em uma rádio pirata? Sabia que mesmo apaixonado pela profissão não diria para o seu filho Guilherme seguir carreira? Sabia que após oito anos de Jovem Pan, saiu para se "arriscar" por um mês na Cultura depois de um desentendimento com Seu Tuta?

Caseiro, Everaldo diz que adaptou sua vida social para narrar os jogos de futebol americano - atividade para qual se prepara por oito horas à cada partida transmitida.

O narrador declara que não vê problemas em fazer propagandas durante as transmissões, porém respeita a política da empresa na qual trabalha. Questionado sobre seu time de coração, ele é taxativo: "Ninguém pergunta para a Miriam Leitão como ela investe o dinheiro. Por que eu preciso revelar para qual equipe eu torço? Os brasileiros infelizmente não respeitam e interpelam os jornalistas esportivos nos estádios."

Confira abaixo a entrevista completa:




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Everaldo Marques afirma que se diverte com o seu trabalho de narrador esportivo na TV e na rádio. No entanto, teme pelo futuro da profissão.

Pai do pequeno Guilherme, ele afirma que a carreira de narrador está desvalorizada. “Não sei como estaremos daqui a 20 anos. Não aconselharia meu filho a seguir os meus passos”.

Eclético, Everaldo se tornou a voz oficial dos esportes americanos no Brasil e narra mais de 20 modalidades esportivas desde outubro de 2005, quando entrou nos canais ESPN.

Antes de trabalhar nas grandes transmissões da NFL e da NBA (ligas de futebol americano e basquete, respectivamente), ele chegou a narrar jogos da Quarta Divisão do Campeonato Paulista em São Bernardo e arriscou ao assinar um contrato de um mês com a Cultura após oito anos de Jovem Pan, de onde saiu enfurecido com o Seu Tuta.


Quando decidiu ser narrador?

Costumo dizer que trabalho com o que sempre sonhei. Não queria ser médico, dentista, veterinário ou astronauta quando era criança. Eu queria ser narrador esportivo. A minha vida inteira pensei que poderia realizar meu sonho. Conduzi minha vida e meus estudos para alcançar o objetivo.

Há algum exemplo prático de como conduziu sua vida para se tornar narrador?

Trabalhei oito anos na Rádio Jovem Pan e quando percebi que não seria narrador, decidi sair. No terceiro colegial (terceiro ano do Ensino Médio), participei de um curso livre. Parte do módulo era justamente uma visita a um estúdio de rádio. No caso era da própria Jovem Pan. Então tive mais certeza do que realmente queria no momento em que coloquei o pé no estúdio.

Mas o encantamento por esse mundo radiofônico surgiu apenas no Ensino Médio?

Quando era criança no início da década de 80, eu ouvia bastante rádio. Futebol era um esporte de rádio. Não havia essa overdose de partidas na televisão e nem canais pagos que há hoje. A TV só transmitia as finais. Até o dia a dia dos clubes era transmitido pelas rádios. Eu nunca imaginei que fosse trabalhar em TV, embora também assistisse muito.

Como funcionava o curso que te colocou na Jovem Pan?

Entrei em 1996, semanas depois de completar 18 anos. O curso era ministrado pelo Flávio Prado, na Universidade São Judas Tadeu, aos sábados. Então quatro ou cinco alunos tinham o direito de ir aos estúdios da Jovem Pan. Sempre dava um jeito de participar do grupo de visitantes. De tanto frequentar a rádio, comecei a ajudar na produção do programa de futebol internacional “Jovem Pan no mundo da bola”, que era apresentando pelo próprio Flávio Prado. Não ganhava nada, mas era a oportunidade de botar a mão na massa e ter uma experiência além da faculdade.

Mas valia a pena trabalhar de graça simultaneamente com a faculdade?

A faculdade de jornalismo dá uma noção muito ruim de como funciona uma rádio de verdade. Principalmente na questão do timing. Você não tem tanto tempo para fechar um programa. Então quando comecei a trabalhar na produção do programa do Flávio Prado, não só entendi o funcionamento real como uma porta se abriu para mim.

Após o curso, qual foi o caminho percorrido até a sua contratação pela Jovem Pan?

Além do programa de futebol internacional, havia um de automobilismo logo na sequência comandado pelo Flávio Gomes. Ele não tinha produtor. Era uma grande correria para organizar, produzir e apresentar o programa sozinho. Ofereci ajuda gratuita novamente porque gosto muito de automobilismo Por três anos, passei quase meus sábados inteiros na Jovem Pan até me contratarem.

O que fez depois da contratação?

Antes mesmo de me contratarem, comecei a fazer boletins no programa do Flávio Prado , em julho de 1997, junto com as produções que eu já desempenhava. Era o responsável pelo balanço do Campeonato Espanhol.
Em 1999, eles me contratam definitivamente para trabalhar todos os dias. Antes eu só aparecia na rádio aos sábados. Então passei a produzir o “Jornal de Esportes”, que à época era apresentado pelo Milton Neves, no horário do almoço.
Fazia também os plantões esportivos. Era aquele cara que acompanhava os outros jogos da rodada e avisava quando saía um gol, além de ser o segundo âncora da casa. Até que em 2002, com a saída do Flávio Gomes, o seu Tuta (Antônio Augusto Amaral de Carvalho, presidente da Jovem Pan) me colocou nas reportagens de Fórmula 1. Acompanhei as corridas in loco até 2004.

Muitas pessoas gostariam de viajar para cobrir a F1, mas o seu sonho era ser narrador...


As pessoas na Jovem Pan sabiam que eu queria narrar. No próprio curso do Flávio Prado, eu já havia participado de alguns projetos pilotos de transmissão. Um rapaz que trabalhava na Jovem Pan tinha o contato de uma rádio comunitária (e pirata) de São Bernardo, a rádio Paraty. Liguei e me chamaram para transmitir um jogo no histórico Estádio 1° de Maio, em abril de 1998. Narrei apenas meia hora de partida, mas gostaram do meu trabalho e me convidaram para transmitir o clássico da cidade na semana seguinte: São Bernardo x Palestra.

Mas você já trabalhava na Jovem Pan. Como conciliou os dois trabalhos?


Trabalhava em São Bernardo apenas aos domingos. Até 1999 (quando foi contratado pela Jovem Pan), os meus domingos eram livres. O meu compromisso na Jovem Pan era aos sábados. Fiquei na Paraty por quase um ano. Nós transmitíamos os jogos da Quarta Divisão do Campeonato Paulista, handebol, vôlei...Inclusive, o time feminino de vôlei do São Bernardo era forte. Tinha a levantadora Fernanda Venturini. Sem falar nas transmissões das seletivas para os Jogos do Interior.

Como foi a transição de repórter de F1 para narrador profissional?


Surgiu um convite para fazer um freela nos Jogos Olímpicos de Antenas, em 2004, pela Bandsports. Só que seu Tuta não me liberou. Disse que não gostaria de ver um profissional da Jovem Pan trabalhar em um rival (no âmbito radiofônico, Bandeirantes e Jovem Pan são concorrentes diretos). Ele disse que se não fosse para o Grupo Bandeirantes me liberaria.

Ficou frustrado?

No momento fiquei triste, mas apareceu outra oportunidade antes mesmo de começar os Jogos Olímpicos. Era uma luta do Popó (ex-pugilista) que seria transmitida pela DirecTV. Falei com o seu Tuta de novo. Então ele me liberou e fiz o trabalho. Só que dois dias depois do combate, eu fui pegar minhas coisas na rádio para viajar à Hungria e cobrir a F1. O rapaz do RH disse que não havia nada separado para mim. Afirmou que o dono da Jovem Pan havia cancelado a viagem.

Qual foi sua reação?

Fui conversar com seu Tuta para saber o que tinha acontecido. Ele disse para mim: “Você não quer fazer televisão? Então vai fazer televisão no quinto dos infernos. Aqui você não faz mais F1. Coloquei outra pessoa em seu lugar. Se quiser continuar na rádio, pode ficar. Mas se não quiser, pode ir embora”. Perguntei se estava me punindo por algo que havia me autorizado fazer. Ele disse que sim. “A rádio é minha e sou eu que decido”. Na hora, eu engoli o jabuti com casca e tudo. Tive vontade de mandar o seu Tuta...ficar com a rádio dele, mas tinha família para sustentar e resolvi ficar. Continuei trabalhando como produtor e segundo comentarista de F1 nos estúdios.

Mas a situação ficou insustentável?

Depois do episódio, eu sabia que deveria sair da Jovem Pan. Conversando com várias pessoas, soube que a Cultura havia adquirido os direitos de transmissão da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Fiz o teste e passei, mas o contrato era de apenas um mês. Mesmo assim aceitei e pedi demissão da Jovem no dia 7 de dezembro de 2004. Pensei que poderia pegar as fitas das transmissões da competição e bater de porta em porta: no Sportv, na ESPN, no Bandsports... Mas a Cultura comprou outros torneios e meu contrato foi estendido até o fim de 2005.

Então largou a rádio de vez até ser contratado pela ESPN (que possui um projeto radiofônico desde 2007)?

Em paralelo ao trabalho na Cultura, em março de 2005, a (rádio) 105 FM montou uma equipe de esportes que existe até hoje. Lélio Teixeira e Eder Lima me chamaram para ajudá-los na montagem. Nós entramos no ar em abril e eu era o narrador titular, além de ser o responsável pelas vinhetas. Coloquei a mão na massa para fazer a rádio funcionar. Então fiquei na 105 e na Cultura, ao mesmo tempo, sem problemas nenhum. Dava para administrar até porque na rádio eu era um dos chefes. Só que a prioridade era a TV.

E como surgiu a ESPN na sua vida?


A ESPN Internacional passaria a transmitir os jogos dos estúdios no Brasil. O (José, ex-diretor de jornalismo dos canais ESPN) Trajano me ligou porque estava precisando de narradores. Ele perguntou se eu entendia de futebol americano e basquete. Respondi que acompanhava como fã, mas que poderia me aprofundar no assunto. Então fechamos um pacote, pois já havia uma ideia de montar a rádio. O projeto radiofônico só se concretizou em 2007. Estreei em outubro de 2005 narrando Holanda x República Tcheca pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2006, deixando a Cultura e a 105 FM.

Qual é o esporte que mais sente prazer em narrar?


As pessoas me identificam bastante com o futebol americano. Mas sou brasileiro e gosto muito de futebol também. O único esporte que pratiquei razoavelmente foi o vôlei. Aqui não temos muitas transmissões de vôlei, mas tive a oportunidade de narrar nos Jogos Olímpicos de Londres. Teve aquele jogo maluco das brasileiras contra as russas. Foram seis match points para a Rússia e o Brasil conseguiu virar. Fui até o fim com o time feminino e transmiti o ouro. Foi uma experiência bacana.

Quais foram os momentos mais marcantes que você narrou?


Cada esporte tem o seu momento. No futebol americano foram as finais (Super Bowl) que narrei in loco. O Super Bowl 44 foi especial porque teve o retorno para história. Um dos maiores quarterbacks (principal jogador de um time do futebol americano) de todos os tempos, Peyton Manning, teve o lançamento interceptado e seu time na época, o Indianapolis Colts, perdeu para o New Orleans Saints. E havia toda uma comoção em Nova Orleans por causa do furacão Katrina que devastou a cidade em 2005.

E nos outros esportes?


Na NBA, eu me lembro do jogo número seis da decisão da penúltima temporada, quando o Ray Allen (jogador do Miami Heat) acertou uma cesta de três pontos no finalzinho. Aquele lance foi fundamental para a conquista da equipe. Agora no futebol são duas partidas. Na TV, a mais legal foi Uruguai x Gana. Foi o único duelo que narrei in loco na Copa do Mundo de 2010 e entrou para a história por tudo o que aconteceu (Gana perdeu um pênalti no último minuto da prorrogação e o Uruguai se classificou nas penalidades). Na rádio, teve o Corinthians x Vasco na Libertadores de 2012. O gol do Paulinho e o grito de “Vai, Corinthians!” foi um marco. Muitas pessoas me identificam por causa dessa narração. Mas o “vai” não surgiu naquela noite e nem por causa do Corinthians. Já havia utilizado em outros confrontos anteriores.

Depois de trabalhar como repórter de F1, você teve a oportunidade de narrar...


Foi muito prazeroso narrar duas temporadas de F1, principalmente no Brasil. Porque nós temos a oportunidade de ir ao autódromo de Interlagos. Sem falar que as curvas do circuito paulistano têm nomes, o que é difícil em outros países.

Quais são seus ídolos profissionais?


Por ouvir muito rádio em casa, gostava de escutar Osmar Santos, José Silvério, Oscar Ulisses, Paulo Soares, Luís Roberto, Fiori Gigliotti... São os caras que eu cresci ouvindo. Minha mãe também ouvia outros comunicadores populares. Até porque escutávamos mais rádio do que víamos televisão.

Além dos narradores esportivos, há outras inspirações?


Nomes como Eli Côrrea, Zé Bettio, Gil Gomes, Paulo Barbosa e Paulo Lopes fazem parte do meu imaginário desde criança. Minha mãe me acordava às 6h com o (programa) “Pulo do Gato”, do Zé Paulo Andrade. Era um miado que acordava todo mundo. Ele dizia que não era para virar do lado e eu acordava xingando (risos).

Hoje você é conhecido por causa da TV. Não há nenhuma referência no meio televisivo?


Assistia ao “Show do Esporte” que passava na TV Bandeirantes aos domingos. Era o dia inteiro vendo os mais diversos tipos de esporte. Sem saber aquilo virou um laboratório para mim. Quando comecei a narrar na TV, eu buscava na minha memória de infância aquelas transmissões. Eu gostava das narrações de vôlei do Marco Antônio, por exemplo. Claro que não usaria as expressões dele como “afunda” ou “Gilsão, mão de pilão”, mas a maneira que ele descrevia o andamento das jogadas me agradava muito. A partir da equipe que transmitia esporte na Band, criei meu próprio estilo.

Você diz que se diverte com o trabalho. Recomendaria a profissão de narrador para seu filho?


Não. A carreira está muito desvalorizada. Tem narrador regional que ganha R$ 400 por jogo e trabalha em quatro transmissões por mês. Como consegue se sustentar? Acho natural que meu filho tenha curiosidade em pelo menos conhecer o mercado, já que é uma profissão pública. Na verdade, eu não quero influenciar a decisão dele. Não vou forçar nada.

sábado, 27 de abril de 2013

Rimas fáceis, calafrios...

Não sei se todos podem dizer isso, mas agradeço à minha mãe pelo nome escolhido.

Há muito tempo, em um dia qualquer, ela me revelou como fez a opção: "Conheci o nome por causa do Vinícius de Moraes. Achei lindo e pensei que você pudesse ser um poeta".

Coitada de 'mi madre'. Talvez eu tenha a decepcionado. Não virei poeta, escritor ou compositor. Nem participei de uma santíssima trindade responsável por uma música nova ou Bossa Nova.

Apesar de não ter herdado o talento do meu xará, gosto mais da beleza e leveza da poesia do que da frieza da prosa.

Quando adolescente, apelei inúmeras vezes para as rimas fáceis. Sinceramente, eu acreditava que, de alguma forma, elas me ajudariam com as mulheres.

Apesar de ser comunicólogo, nunca tive muito jeito para me declarar às belas do sexo oposto. A timidez tomava conta de mim na hora de oralizar uma abordagem. A saída recorrente, então, eram os versos.

Não sei explicar o porquê, mas o encanto poético se perdeu em algum lugar desconhecido.

Procurei nos 'achados e perdidos'. Sem sucesso. Tentei no SSO (aquele do metrô) também e o fracasso foi igualmente retumbante.

Será que um dia o acho? Será que um dia os meus versos serão tema de livro? Será que eles vão voltar a rolar, nem que seja por um segundo mais feliz?