terça-feira, 30 de junho de 2015

O choro é livre

Vi muitas pessoas atacando e defendendo o jornalista Zeca Camargo por causa de sua crônica sobre a comoção gerada pela morte do cantor Cristiano Araújo.

Fiquei curioso e resolvi ver o comentário. Aproveitei para ver sua explicação após a revolta de alguns fãs e cantores sertanejos.

Apesar de estar em dívida com o blog e ainda não ter postado a segunda parte da entrevista com os jornalistas Paulo Manso e Alexandre de Paulo (mesmo velha, permanece atual), gostaria de dar minha opinião sobre a crônica do Zeca. Não como um profissional da área de comunicação, mas como um filho que perdeu o pai há 15 dias.

Recebi mensagens, ligações e abraços de amigos e parentes que não via há anos. Todos quiseram amenizar a dor da perda. E conseguiram.

Alguns amigos não chegaram nem a conhecer o meu pai. Por isso não deveriam lamentar o óbito? Não deveriam ficar tristes? Não deveriam expressar suas condolências?

Experiente e calejado em coberturas de mortes de famosos, como ele mesmo definiu, Zeca Camargo deveria estar mais do que acostumado a estas manifestações. A morte sempre imortaliza. Na antiga versão do blog, havia escrito exatamente isso sobre o piloto Ayrton Senna.

Antes do acidente fatal de Cristiano Araújo, eu conhecia o seu trabalho por uma música (que, por sinal, gosto muito): "Maus bocados".

Depois que ele morreu, soube que era o intérprete de outras canções que eu conhecia, descobri mais algumas e passei a gostar de "Caso indefinido".

Mas, independente de tudo isso, qualquer morte é de se lamentar. Ainda mais da forma violenta que foi.

Cristiano Araújo tinha apenas 29 anos e estava no auge. E pouco importa se o auge é ter 100 mil fãs ou 1 milhão de pessoas em um show.

Quando estava no meu antigo emprego, há mais de um ano, o meu ex-chefe perguntou para outra repórter se valia a pena fazer uma promoção com o cantor. Na época não o conhecíamos. Então resolvemos entrar na fan page dele no Facebook.

À época, o sertanejo já possuía milhares de curtidas. Concluímos que a ação era válida. Hoje, impulsionado pela morte ou não (não interessa), já são 7,6 milhões de joinhas. Vi alguns vídeos de apresentações de Cristiano. Todos os seus shows (realizados em locais grandes) estavam lotados.

Só estes pequenos "causos" mostram que a grande comoção não é surpreendente. Ou pelo menos não era para ser. Por mais que muita gente não o conhecesse, o cantor tinha, sim, uma legião de seguidores.

E se esta legião aumentou depois de sua morte? Qual é o problema? Você não pode conhecer algo novo e gostar? Porque é óbvio que o trabalho e a imagem do sertanejo seriam expostos a exaustão após o ocorrido. Sempre foi assim e sempre será. Zeca Camargo é jornalista e não sabia disso?

Aliás, quando o próprio Zeca morrer, vai acontecer a mesma coisa: várias pessoas vão lamentar o fato como se fossem íntimas dele. Mesmo que ele fique décadas afastado da TV. Afinal, após anos de Globo, obviamente é uma figura pública.

Então, Zeca, deixe as pessoas chorarem. O choro é livre.

Que mal há em as pessoas expressarem seu pesar? Seja por um momento ou por uma vida inteira?