quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O preço de um resgate

Fazia tempo que não aparecia por aqui, não é mesmo? No país do carnaval, às vezes, a curtição é necessária. O problema é quando esta mesma mesma curtição causa danos. Este foi meu caso. Mas, aos poucos, estou me recuperando.

Não costumo falar diretamente sobre mim no blog. Uso metáforas, personagens e nomes fictícios. O leitor (a) mais atento (a) já percebeu o 'truque'.

Nas doze postagens anteriores, também não falei sobre esporte. Já escrevo demais sobre o tema profissionalmente. Aqui é um espaço livre para devaneios. E eu gosto muito de devanear...Principalmente acompanhado de cerveja, cigarro de menta, tequila e amigos.

Uma combinação quase perfeita, porém pouco (ou nada) saudável. Ainda mais quando uma fritura é acrescida a este menu. É uma bomba atômica, eu diria.

Hoje, excepcionalmente, falarei sobre mim e sobre esporte. Com uma pitada de devaneio (não, não estou bebendo neste momento).

Antes de realizar uma ressonância no joelho esquerdo, ontem à tarde, fui surpreendido por um filme de 2007 chamado "O resgate de um campeão" --Resurrecting the champ (no original em inglês).



Só o fato de contar com o Samuel L. Jackson já seria o necessário para chamar a minha atenção. Mas o filme tinha mais: falava sobre um jornalista esportivo, interpretado por Josh Hartnett, em busca de uma grande história.

E ele achou a tal história em uma mentira inventada por Jackson, que deu vida a um ex-pugilista, morador de rua nos dias relatados pelo filme.

Em determinado momento, a mentira foi benéfica aos dois protagonistas. Mas, por pouco, não acabou com a carreira do jornalista.

Pensei no assunto. Claro que o jornalismo exige verdade e objetividade factual. SEMPRE.

Mas será que a nossa vida não está pragmática demais? Será que não há espaço para devaneios e mentiras que, de certa forma, nos resgatam desta cruel realidade?

Esqueçam os fatos, esqueçam os jornais. Fechem os olhos e imaginem: "Qual será minha mentira de hoje para me sentir melhor?"

Qual é o preço que está disposto a pagar para resgatar você de si mesmo? Na Teoria da Comunicação, os estudiosos falam de primeira e segunda realidade. Qual delas você quer?

Fugir da realidade é muito mais do que postar coisas bonitas no Facebook (apesar de todo este discurso parecer exatamente isso). É crer que a dor seja passageira por mais que seu médico diga o contrário.

Sair do "baseado em fatos reais" para "ficção" talvez não seja uma alternativa. Às vezes, pode ser a única solução.

Aja sem os pés nos chão. Afinal, no fundo, todos querem mesmo é voar.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Guarda baixa

Horas antes da luta de sua vida , ele sorria. Mostrava confiança na vitória. Todos os gestos eram calculados para aparentar tranquilidade.

Cada palavra solta era trabalhada com a precisão de ourives. Nada poderia sair do lugar.


Havia chegado o sonhado momento. Foi chamado para entrar no ringue. Suava, respirava fundo e desferia socos no vácuo. Estava tudo sob o controle.

Encarou o oponente, mas não conseguiu ficar com os olhos fixos no adversário por muito tempo.

O combate começou e seu pensamento era só se esquivar. Não conseguia atacar o rival. Os braços pareciam presos.

- Como ficaram tão pesados? -- indagava-se enquanto se movimentava de um lado para outro.

A poucos segundos de terminar o primeiro round, levou um duro golpe. Um direto de direita acertou em cheio a sua face. Caiu.




O juiz abriu contagem, mas antes de chegar aos seis segundos, levantou-se. Soou o gongo.

- Reaja! Não fique com a guarda baixa --disse o técnico.

Era a mesma coisa de não ter dito nada. Naquele momento nada mais fazia sentido. Estava desorientado.

Não demorou muito para receber outro soco no segundo round. Beijou a lona novamente. Desta vez, não se reergueu.

A poça de sangue ao redor denunciava o fracasso. Não tinha mais volta. Era um derrotado.

Os olhares dos amigos, técnico e parentes lhe mostraram uma coisa que, no fundo, já sabia.

A postura de vencedor antes da luta enganou apenas uma pessoa: a si próprio. Ele era um péssimo ator.