quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Guarda baixa

Horas antes da luta de sua vida , ele sorria. Mostrava confiança na vitória. Todos os gestos eram calculados para aparentar tranquilidade.

Cada palavra solta era trabalhada com a precisão de ourives. Nada poderia sair do lugar.


Havia chegado o sonhado momento. Foi chamado para entrar no ringue. Suava, respirava fundo e desferia socos no vácuo. Estava tudo sob o controle.

Encarou o oponente, mas não conseguiu ficar com os olhos fixos no adversário por muito tempo.

O combate começou e seu pensamento era só se esquivar. Não conseguia atacar o rival. Os braços pareciam presos.

- Como ficaram tão pesados? -- indagava-se enquanto se movimentava de um lado para outro.

A poucos segundos de terminar o primeiro round, levou um duro golpe. Um direto de direita acertou em cheio a sua face. Caiu.




O juiz abriu contagem, mas antes de chegar aos seis segundos, levantou-se. Soou o gongo.

- Reaja! Não fique com a guarda baixa --disse o técnico.

Era a mesma coisa de não ter dito nada. Naquele momento nada mais fazia sentido. Estava desorientado.

Não demorou muito para receber outro soco no segundo round. Beijou a lona novamente. Desta vez, não se reergueu.

A poça de sangue ao redor denunciava o fracasso. Não tinha mais volta. Era um derrotado.

Os olhares dos amigos, técnico e parentes lhe mostraram uma coisa que, no fundo, já sabia.

A postura de vencedor antes da luta enganou apenas uma pessoa: a si próprio. Ele era um péssimo ator.


Nenhum comentário: